sexta-feira, 16 de maio de 2008

Suicidas na Capital da fé


(*) Emanuel Vital de Sousa


O primeiro grande relato suicida que se tem conta, remota da era cristã, na trajetória de Jesus Cristo pela Terra na sua peregrinação para pregar o evangelho. Portanto, não é uma prática nova. Judas Iscariotes enforcou-se quando traiu Jesus, e o vendeu por trinta moedas de pratas. Segundo a Bíblia, Judas teria se perturbado ao ser tentado pelo diabo.

Talvez seja o suicídio uma das maneiras mais horrendas que alguém pratica para se matar, porem, o suicida é de uma coragem a cima do normal. Alguém que prepara o cenário da sua própria morte tem pelo menos um distúrbio psíquico momentâneo e, na grande maioria das vezes, irreversível. A mente humana neste momento ultrapassa o limite da razão, é “loucura extrema”, já que pessoas em sua plena consciência não cometem esse tipo de ato.

“...Oeiras invicta tu sempre serás, O terra bendita de amor e de paz...” O lindo refrão do hino de Oeiras, remete a uma certeza, que a cidade viveria sempre em dias de plena paz. Infelizmente hoje, não se pode dizer que a cidade vive um momento de paz. Muitos de seus filhos vivem em um verdadeiro inferno astral, e nenhuma paz de espírito, haja vista que em pleno o mês de maio, já foram seis oeirenses que se suicidaram.

O grande questionamento é o que estaria por traz de tudo isso? Logo em Oeiras, a terra do povo de uma religiosidade fervorosa. “Isso é loucura!” Pode ser. “Que nada, é o mal do novo século, depressão”. Trata-se de um estado mental que se caracteriza por tristeza, desespero e desestimulo quanto a qualquer atividade. Fazendo um paralelo, percebe-se que a própria definição de suicídio, se aproxima muito das características da depressão. Entre outros, suicídio pode ser definido como: uma atitude individual de extinguir a própria vida, podendo ser causado entre outros fatores por um elevado grau de sofrimento, que tanto pode ser verdadeiro ou ter sua origem em algum transtorno psiquiátrico como psicose aguda ou a depressão delirante.

Diz o poeta: “De louco todo mundo tem um pouco”. Seria a velha loucura oeirense, a causa de tanta morte? A cidade também é intitulada de terra dos loucos. Tanto é verdade, que nas ruas da velha capital, não é difícil encontrar alguém com distúrbios mentais. No passado, os ricos do município tinham em suas residências, um quarto reservado para o louco da família, tamanha era a certeza da loucura. Vale ressaltar, que os loucos de Oeiras morrem naturalmente, não se suicidam.

Talvez o problema esteja na falta de fé, se assim for, todo cuidado é pouco. Os laços do “inimigo” são repentinos e traiçoeiros. Pois em verdade vos digo que, se tiveres fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos é impossível. (Mateus 21:21); Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei (I Corintios 13:2). O suicídio em grande escala não é uma prática pertinente a pessoas que se intitulam como os da Capital da Fé. Pelo que se percebe, o título que a cidade ostenta com tanto fervor, pode ser substituído em pouco tempo pelo de capital piauiense dos suicídios. A razão para isso é notória. A cada ano, o numero de mortes por essa prática é sempre crescente. Para exemplificar, ano passado, salvo engano foram 10 casos. Este ano, em apenas cinco meses, já são seis. Pois bem, ao que parece, além das mazelas sociais que afetam não só Oeiras, mas toda a sociedade capitalista, é alimentada pela falta de fé e de amor consigo e com o próximo. Assim, o ser humano se acha ferido no próprio ego a ponto de achar que a vida não faz mais sentido, e o correto mesmo, é tirá-la. Puro engano. A vida é um dom que Deus dá a toda a criatura. Tirá-la é anteceder a um direito que o Criador não deu a ninguém.



(*) Emanuel Vital de Sousa é professor de Geografia em Oeiras.

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