terça-feira, 2 de setembro de 2008

UM NOME PRA NÃO ESQUECER

(*) Ferrer Freitas


A pessoa perfilada nesta crônica, se soubesse da intenção, com certeza me desautorava sem pestanejar, pois, ao contrário de muitos, não gosta que se lhe façam mesuras. Adota a máxima bíblica segundo a qual o que a mão direita faz a esquerda não precisa saber. Trata-se da oeirense Socorro Barbosa, nascida na antiga rua do Tanguitá, em casa que já desapareceu, próxima do sobrado Major Selemérico. Lembro-me dela ainda muito jovem, bonita (ainda continua) e séria. Esta faceta, sem dúvida a mais marcante. Não diria taciturna, pela insuspeita admiração, mas não é outra coisa. Formada professora na cidade de Floriano, substituiu, no primeiro momento, a mestra Eva Feitosa, um ícone do ensino público em Oeiras, que entrara de férias no Grupo Escolar Armando Burlamaqui, justo na minha turma. Não me lembro do ano, série, nem de quantos éramos, mas nunca esqueço de alguns nomes: Juraci, do Riachão e primo da novel professora; Leônidas, “xô Liondas” do avô Raimundo Valentim; Antônio de Passos, Norma, Cristino e Marildes, todos Feitosa e sobrinhos de dona Eva; Meméía (Maria Amélia Freitas); Jesus Lopes; Filomena Sérvio; Miriam Nunes e sua prima Emília; Arlete Luz, minha vizinha, e muitos outros queridos coleguinhas cujos nomes me fogem à lembrança. Depois, passou a trabalhar no comércio de seu Mário Freitas, com a amiga maior, Maria Oliveira, até ser admitida na Caixa Econômica Federal (CEF), o que a trouxe para Teresina. Enquanto esteve na primeira capital, cuidou, com zelo exemplar, para que pudessem estudar, de dois irmãos menores do segundo matrimônio de seu pai , que ficara viúvo de sua mãe, dona Almerinda, mais conhecida por Dengosa. Seu Sebastião Barbosa, ainda homem moço, casou então com dona Jovita Madeira, uma guerreira que também foi objeto de crônica minha quando de sua passagem para o outro lado do mistério, como diria o bruxo do Cosme Velho. Moravam no então povoado São Francisco, onde ele desenvolvia atividades de agropecuarista. Nas horas vagas, era chefe político ligado ao grande líder Augusto Rocha Neto.

Voltando ao tempo de Oeiras, lembro-me de Socorro morando na Clodoaldo Freitas, nas proximidades do largo formado com a Travessa Padre Freitas , meu tetravô, acompanhada de Antônio e Maria, ainda crianças. O Tõim, ou Madeira, menino arteiro, como se dizia dos que faziam artes, em outras palavras, traquinices, era meu colega de peladas na pracinha, como chamávamos o Largo da Matriz. Outros dois, Janete e Francisco, moravam com a irmã Juanita, uma lembrança indelével da família e de amigos como Natércia e Miguel Reis. Não poderia deixar de citar ainda o mano-varão, do primeiro matrimônio, Barbosa, de registro Joaquim, que sempre foge para estas bandas quando o frio chega em São José dos Pinhais, passando, segundo o sobrinho Sebastião Júnior, que gosta de tirar um sarro, a se queixar do calorão que faz aqui.

Como preceptora, Socorro cuidava dos irmãos com rédea curta, sobretudo do Madeira, que ainda hoje agradece uns puxões de orelha. E não só deles, mas de quantos precisaram e foram à sua procura em busca de socorro, sem trocadilhos, até por não ser este seu prenome, como muitos pensam. É simplesmente Maria, um ser de excelsas virtudes, que aniversaria nesta data e chega a uma idade que poucos alcançam e, o que é melhor, sem que ninguém lhe dê. Calibre dos Carvalho do Riachão, revelou-me a prima Petinha. Daí recusar-me a declinar os números, em respeito à sua jovialidade e elegância discreta. Vida longa, Socorro, digo, Maria de Carvalho Barbosa.


(*)Ferrer Freitas é membro do Conselho Estadual de Cultura

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