segunda-feira, 7 de abril de 2008

NARRATIVAS DE FÉ QUE REVELAM HUMANIDADE

Por Joca Oeiras, o anjo andarilho


– O livro “Passos do Bom Jesus, narrativas de fé” cita a professora fulana de tal, o Sr Beltrano da Silva e não acrescenta verdadeiramente nada de propriamente autoral à compreensão da Procissão dos Passos!

Esta foi a crítica, formulada por um jovem amigo meu, ao livro dos jornalistas oeirenses Francisco Stefano e Pedro Freitas Jr.

Para mim, no entanto, é justamente isso o que há de encantador nesse pequeno grande livro. Saber o trabalho que dá a escolha e a preparação da Maria Beú, ficar sabendo que o estilista Wellestron combate o machismo confeccionando flores para enfeitar os Passos, descobrir que, por trás de cada detalhe da procissão, há zelosos guardiões da secular tradição religiosa, ser informado de que o transporte de um banquinho ter caráter de importante missão para o doce Zé de Helena, entender que os pagadores de promessas revigoram sua fé em atos de doação de si mesmos, tudo isto processado com objetividade jornalística onde, mais importante que qualquer pretensão literária é dar voz aos personagens, às personalidades e aos protagonistas da maior cerimônia religiosa do Piauí.

Porque não vai muito com a cara dos autores do livro, e este Porque (?) não vem ao caso, o jovem contestador queria encontrar nele, creio eu, grandes pretensões teosóficas, literárias ou, até mesmo, antropológicas para comprovar seu próprio preconceito segundo o qual Stefano e Pedro não passam de pavões pretensamente intelectuais.

Seja como for, por piores que tenham sido as suas intenções, milita a favor do meu, ainda mal resolvido, amigo, o fato de que ele se obrigou a ler o livro. E, como eu disse no início, resumiu corretamente a leitura que fez, isto é, trata-se de dar voz a quem verdadeiramente faz a diferença na belíssima Procissão dos Passos do Bom Jesus.

Santo de Casa faz milagres?

Ao definir, no início deste texto, como “jornalistas oeirenses” os autores do indigitado livro pode haver quem me acuse, talvez, de ter pecado por omissão: muito mais que jornalistas, Stefano e Pedro possuem uma vasta experiência no magistério secundário e universitário em Oeiras. Aliás, muito mais até que professores, eles podem ser qualificados como oeirenses da gema e da clara, tendo vivenciado, desde a mais tenra idade, junto com seus familiares, todas as emoções de participação na vida religiosa da cidade, coisa que o oeirense leva muito a sério e que ajuda a explicar sua fé renovada a cada ano, inclusive na mais espetacular manifestação, a procissão dos Passos do Bom Jesus. Só por isso os dois jovens poderiam ser tentados a trilhar um caminho mais fácil e pontificar, requentando, as coisas que aprenderam na vivência dessa religiosidade latente que todo o oeirense tem. Resistiram a esta tentação, talvez, até, por influência de seu orientador, Orlando Berti, jornalista dos quatro costados, que também assina as fotos do livro.

Por isso estou plenamente convencido de que defini com perfeição os autores ao chamá-los de jornalistas – e isto, diga-se de passagem, sem que nenhum dos dois milite em jornal! O livro “Passos do Bom Jesus” é, da intenção ao resultado, puro jornalismo literário da melhor qualidade, jornalismo que faz jorrarem todas as suas fontes de informação de forma agradável e harmoniosa conduzidas, de forma sábia e serena, pela batuta dos dois maestros.Devo dizer, a bem da verdade, que a leitura deste livro funcionou, para mim, como uma revelação. Nunca mais irei ver os “Passos do Bom Jesus” (a cerimônia religiosa) com os mesmos olhos. Não se trata, no entanto, de uma revelação de caráter Sagrado mas doHUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO.

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