sexta-feira, 20 de junho de 2008

Museu de Arte Sacra de Oeiras: Um Elogio à Mesmice

*Joca Oeiras
Foto:Adleuza Pacheco

Um tanto atrasada, a bem dizer, vencida, chegou em minhas mãos a programação da 6º Semana de Museus (12 a 18 de maio de 2008). Tivesse chegado a tempo, no entanto, mesmo assim de nada adiantaria – a não ser que eu viajasse a Picos ou a Teresina, ou saísse do Piauí e fosse a Caxias no Maranhão ou a Sobral, no Ceará, por exemplo – pois, para o Museu de Arte Sacra de Oeiras a Semana passou em brancas nuvens: nenhuma atividade foi programada!

O
Museu de Arte Sacra de Oeiras é assim descrito no site do Sistema Brasileiro de Museus:

Histórico do Museu


O prédio foi construído no século XIX, pela família Castelo Branco, e é conhecido pelo nome de Capitão-Mor João Nepomuceno. Pertenceu, ainda, aos Burlamaqui, no ano de 1890, passou a ser residência do Coronel Alano Bezerra. Anos depois, foi adquirido para ser a sede da Intendência Municipal. No ano de 1929 passou a ser o Grupo Escolar Costa Alvarenga e, em 1940, o município de Oeiras doou o prédio para a Diocese, quando foi transformada uma de suas dependências em capela. Hoje é sede do Museu de Arte Sacra de Oeiras (1983).

Histórico da formação do acervo



O Museu de Arte Sacra de Oeiras pertence à Paróquia de N. S. da Vitória de Oeiras. Quase todo o acervo é oriundo de três igrejas: N. S. das Vitórias (matriz), N. S. do Rosário e N. S. da Conceição. Uma pequena parte advém de colecionadores. O acervo é composto por imagens de madeira policromada do século XVIII, XIX e XX, varas do pálio, lanternas, crucifixos, castiçais, resplendores e coroas. Uma das dependências foi transformada em capela e nela se encontram várias peças, como bancos, confessionários, genuflexórios, cátedra, algumas imagens policromadas do século XVIII, imagens em gesso e um altar que pertenceu à Igreja de N. S. do Rosário. Em uma das salas, encontram-se paramentos e outros objetos dos bispos que passaram por esta diocese. A maioria das peças ainda é utilizada no período de festas.

Administração: pública/estadual

Sem pretender rivalizar-se com os museus de Arte Sacra da Bahia, de Minas Gerais e, mesmo, o de São Paulo, o acervo do Museu de Oeiras é – como não poderia deixar de ser – consentâneo com as igrejas que deram origem a ele, o que lhe confere, inclusive, maior autenticidade. Trata-se, tanto pelo espaço físico onde está instalado – o sobrado João Nepomuceno é um dos poucos monumentos no Piauí tombado em nível federal – como pelo acervo que preserva, um Museu digno do maior respeito e que tem potencial para despertar o interesse de tantos quantos o visitem, mesmo de pessoas acostumadas a freqüentar este tipo de memorial.




Param aí, no entanto, e infelizmente, os elogios que se podem fazer a ele. Não me admira que, na 6ª Semana dos Museus, formatada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em parceria com a ABM (Associação Brasileira de Museologia) nada fosse programado para ocorrer. Pois nada ocorre nunca lá. Trata-se de um Museu desvitalizado, embora não desvalido, como vimos. Alguém que o visite hoje munido da descrição que transcrevi acima (retirada do site referido) vai reconhecê-la perfeita nos seus mínimos detalhes, pois o que lá existe hoje é a mesma disposicão do acervo que havia 5 anos atrás quando eu o visitei pela primeira vez. Não há exposições temáticas, nenhuma atividade museológica, nenhuma publicação referente a seu acervo, nenhuma possibilidade de se adquirir qualquer souvenir. Trata-se da política de se fingir de morto; quanto menos gente aparecer, melhor, suja menos, dá menos trabalho. Uma lástima!

A gente tem a tendência de crucificar a pobre da moça que toma conta do Museu já que ela é a única cara visível para se bater. Não que ela não tenha a sua parcela de culpa, seu conformismo é evidente, não tem amor ao que faz, não rema contra a maré. Sabe, no entanto, cumprir regras burocráticas absurdas, como a proibição de se fotografar o acervo, sem sequer saber o porquê de tal proibição ridícula. Mas é evidente que os principais responsáveis estão alhures, na FUNDAC (Fundação Cultural do Piauí).

Se você conversar com qualquer gestor da FUNDAC, se compulsar seus documentos publicados ouvirá e lerá que, para a instituição, é palavra de ordem prioritária a DESCENTRALIZAÇÃO DA CULTURA. Em Oeiras, ela possui dois locais que poderiam ser centros irradiadores dessa propalada política: o Sobrado Major Selemérico, restaurado, encontra-se fechado, sem que se vislumbre qualquer sinal de um projeto para sua reabertura como Centro Cultural. Já o Museu de Arte Sacra constitui-se na negação de tudo o que prega a moderna museologia, como podemos ver neste pequeno trecho do texto de apresentação da 6ª Semana Nacional de Museus:

“Os Museus estão em movimento, estão em mudança e desenvolvimento e são, eles mesmos, agentes de movimento, de desenvolvimeto e mudança social...Entre em sintonia com o nosso tema gerador, descubra o mundo de possibilidades que os museus oferecem” Pode ser verdade em outros lugares, mas não aqui no Museu de Arte Sacra de Oeiras. Isso precisa mudar!




Joca Oeiras, o anjo andarilho

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo texto Lameck!

Israell Martins