domingo, 15 de junho de 2008

As meninas na terra da garoa


* Carlos Rubem




Não foi fácil articular a participação dos “Bandolins de Oeiras” no Piauí-Sampa, deste ano, atendendo a convite do Sebrae/PI. Produtor do referido grupo musical, tive que aparar muitas arestas. Mesmo assim, a Dona Lilásia Freitas, entre outras cousas, alegando o frio de São Paulo, resolveu que não iria. Claro que sua ausência foi sentida!

Mesmo muita gente boa me chamando de doido, o certo é que partimos na manhã cedo de um domingo ensolarado (25/05) rumo à Paulicéia fazendo demorada conexão em Brasília. À tarde, estávamos alojados no Hotel Mercury, no Ibirapuera. Por lá jantamos. As Meninas fizeram um ensaio de apronto contando agora com os violões do Geraldo Brito e Josué Ferreira, além do contrabaixo do Tom Chico.

No dia seguinte, almoço no restaurante da Rede Globo de Televisão. Dona Petinha Amorim, Rosário Lemos, Zezé Ferreira e Nieta Maranhão, de provectas idades, foram recebidas como estrelas de alta constelação. Trancaram-nas num camarim provido de tudo. Até frutas tropicais foram servidas. Depois de terem sido maquiadas e bem vestidas, as nossas artistas adentraram ao auditório onde é gravado o badalado Programa do Jô Soares. Muitos ajustes na iluminação e áudio, eis que o aparece o manda-chuva Willem. Ordens foram emitidas. Tudo esquematizado, surge naquele ambiente o grande entrevistador com o seu jeito histriônico de ser.

A conversa com as Meninas foi bem descontraída. Falaram da formação do grupo; relataram como se dão suas apresentações; expuseram o desejo de prensar o segundo CD e, entremeando o bate-papo instigante, iam dando palinhas executando peças variadas. Por fim, acompanhada das companheiras em seus instrumentos de corda, Dona Petinha, do alto dos seus 87 anos de idade, solfejou a modinha “Brincando de Bandolins”, do domínio público, arrancando aplausos do famoso entrevistador e da seleta platéia. Em grande performance, fecharam o último bloco, tocando “Ave Maria de Gounod”.

Enfrentando o trânsito maluco, deslocamo-nos ao Teatro das Artes do Shopping Eldorado. Ali ocorreu a abertura oficial do referido evento de negócios com a presença do governador Wellington Dias e destacadas autoridades. As Meninas executaram o Hino do Piauí e mais cinco composições entre choros e a valsa “Cecy Carmo”, de autoria do saudoso conterrâneo Possidônio Queiroz. Para logo foram oferecidas comidas e bebidas típicas. Neste momento, os presentes assediaram as Meninas com todo o carinho do mundo, inclusive a BBB Gyselle Soares.

Na terça-feira pela manhã, breve passeio aos Mosteiros de São Bento e do Frei Galvão. Empunhando seus rosários, tiveram momentos contemplativos. E eu só fotografando, observando a reação embevecida de todas elas. Ademais, vi-me na contingência de “corromper” um guarda objetivando adquirir 13 pílulas do santo brasileiro.

Voltamos ao hotel. Havia uma preocupação estampada no rosto das Meninas: estava marcada uma entrevista para o Programa Metrópole, da TV Cultura. Fazendo uma reparadora sesta, sou acordado ao telefone: – “Só falta você!”, era a Alreni, gestora de cultura do Sebrae/PI, que demonstrou amabilidade a todos e a cada instante. Sobraçando pastas contendo partituras, ao chegar ao hall aconteceu lastimável acidente. Dona Zezé, já impaciente, resolveu descer os quatros degraus sem contar com a ajuda de ninguém. Resultado: levou um tombo causando-lhe fratura no seu antebraço direito (rádio). No entanto, não demonstrou desânimo. Disse que não estava doendo e que iria de qualquer jeito participar do que fora combinado. Previdente, comprei um antiinflamatório e analgésico em spray para mitigar o incômodo, que àquela altura não tinha ciência exata da gravidade.

No Espaço Atrium Azul, tendo como cenário a exposição de produtos “piauizeiros”, rolou uma longa entrevista a uma linda e simpática repórter. Nesta oportunidade, as Meninas se soltaram pra valer!

À boca da noite, o frio fez a diferença. Entramos numa Van e procuramos um hospital mais próximo, após ter mantido contrato com o médico ortopedista oeirense, José Augusto, que lá se encontra fazendo estudos em sua especialidade. No nosocômio, ficamos Alreni, Dona Zezé e eu. De início, um problema: a paciente não trazia documentos. E haja telefonemas para o motorista. Superado o entrave burocrático, a Dona Zezé foi muito bem atendida pelo Dr. Fernando Augusto. Procedida uma radiografia, constatou-se que o braço se havia quebrado. Aplicou-se anestesia “in loco”, fez-se uma manobra tal em que se ouviu um estalar de ossos. Neste momento, Dona Zezé deu um gemido profundo que calou a minha alma. Terminada a colocação do gesso, outra radiografia. A nossa heroína, ao ser novamente atendida pelo aludido médico, sapecou: – “Isto só pode ter sido atentação do Diabo! Ontem, nesta mesma hora, eu estava boazinha...” Ri à beça! Fomos jantar no hotel lá pelas 23h. Dona Zezé se espantou com o preço da canja. – “Bill, com R$ 34,00 faço é um banquete em minha casa!”

Na manhã seguinte, passeio a Campos do Jordão. Paisagens paradisíacas. Nesta cidade serrana houve o almoço. De lá, fomos ao Santuário de N. Sra. Aparecida. A Imagem da Padroeira do Brasil emocionou as Meninas, que arranjaram um tempo para rezar um terço. Enquanto isto, não me sosseguei um só instante contemplando o monumental templo. É de encher os olhos...

No dia 29/05, à tarde, nos dirigimos ao aeroporto de Guarulhos. Fizemos o check-in numa plataforma especial. Valeu o Estatuto do Idoso por nós argumentado. Desde o início assumi inteira responsabilidade pelos “moleques do pescoço fino”, para evitar a reiterada pergunta: – “Cadê meu bandolim?”

No aeroporto de Brasília, as Meninas foram reconhecidas e efusivamente cumprimentadas pelo Senador João Vicente e pelo Deputado Átila Lira e por muitas outras pessoas que ali se encontavam. Note-se: até Dom Juarez, recém empossado Bispo de Oeiras, telefonou para parabenizá-las!...

Chegando a Teresina, mais um fato inesperado: apesar dos cuidados dispensados pelo Josué, este esqueceu no aeroporto de Brasília uma frasqueira preta pertencente à Dona Rosário Lemos. Nela continha, além do nome da proprietária, remédios e peças íntimas. De pronto, apelamos à Infraero no sentido de localizá-la. Esperamos que alguém honrado possa entregar tal objeto no setor competente.

Seja como for, as Meninas – que estão motivadas para gravarem novo CD ou mesmo um DVD – bem divulgaram, Brasil afora, o nome, a boa imagem de Oeiras e do Piauí. Viva!...

*Promotor de Justiça

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