sexta-feira, 20 de junho de 2008

CENTRO HISTÓRICO SEM ASFALTO

* Ferrer Freitas
Foto: Adleuza Pacheco



Como nunca exerci o dever sagrado do voto na minha gleba, pois até, pela vez primeira, o fiz no Rio de Janeiro, à época cidade-estado, a Guanabara, julgo-me sempre à vontade para expressar meus pontos de vista sobre a cidade, embora muitos políticos conterrâneos não achem que tenha esse direito. Acredito que julguem, dos dois lados, é bom frisar, que o fato de me relacionar com determinadas pessoas leva-me a torcer pela facção que representam. É o maniqueísmo insuportável. Muitos vêem a sua ala política como sendo o ‘céu’, enquanto a outra, o ‘inferno’. É de se perguntar: e Oeiras, é o quê?

Este intróito vem a propósito da retirada, passados 10 anos, do asfalto de grande parte do centro histórico , sobretudo da outrora conhecida rua da Feira. Gostaria até de isentar de culpa, em parte, a administração municipal de então, que caiu no canto da sereia do governo do Estado. Acho que não deveria, em hipótese alguma, ter aceito a pseudo-obra, verdadeiro presente de grego. Lembro-me que, à frente do Instituto Histórico e membro do Conselho Estadual de Cultura, fiz tudo para que não se perpetrasse tamanho opróbrio contra a cidade. O número 15, 1998, da revista do Instituto, traz, no primeiro caderno, artigos contra a “obra”. Levei o assunto para o Conselho, que expressou, através de ofício da presidência, ser de parecer contrário. Ressalte-se que fazia parte do colegiado a chefe do escritório do IPHAN no Piauí. Com a inclusão da cidade na programação do MONUMENTA, a retirada do asfalto passou a ser a condição sem a qual nada se faria. Retirou-se o que nunca deveria ter sido posto.

Agora vejo, com alegria, a Zacarias de Góis, onde está a botica do querido Amigo Paulo Jorge Campos Reis, sem as lombadas resultantes da borra (pra não dizer outra coisa de sonoridade igual) asfáltica. A igreja de N. S. da Conceição, da antiga Irmandade dos Homens Pardos, já sem aquele negrume melancólico no seu entorno, bem assim a loja Tapety, do “gentleman” Teódulo Tristão, fundada em 1888. A velha rua do Hospital, de Zecamorim, Lourenço Barbosa, Godofredo Raposo, Elias Martins (bisneto do Visconde) e de uma velha senhora que adentrava os cemitérios da Raimundo Queiroz, dia de finados, entoando um canto aos mortos que só ela sabia, de repente voltando a mostrar seu calçamento original. Por fim, só resta parafrasear Chico, dizendo: é de arrepiar ver ressurgir “cada paralelepípedo da velha cidade.”



(*) Ferrer Freitas é vice-presidente do Instituto Histórico de Oeiras

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