domingo, 6 de julho de 2008

UM SER DE EXCELSAS VIRTUDES

(*) Ferrer Freitas


Oeiras perdeu um dos melhores seres humanos que conheci, Isabel Alves de Sousa, a prestimosa, querida e, já saudosa, Besinha, como era mais conhecida. E digo isso não por ter sido alguém que ela ajudou, em determinada época, pois socorreu a outros, a muitos, sem desfalecimento, sem esperar recompensa,sem se fazer de rogada. E, o que melhor, não só em Oeiras, mas bem distante dali, no Rio de Janeiro, para onde foi, nos anos sessenta, depois de relevantes serviços prestados à comunidade no Posto de Saúde (chamava-se Posto de Higiene) da cidade. No primeiro momento ficou com a irmã Cotinha, na Glória, período em que lá esteve para tratar-se de um sério problema auditivo, que culminou com operação de certo risco.

A fase marcante de Besa, assim tratada só pelos íntimos, é, no entanto, em Botafogo, na rua 19 de fevereiro, numa casa de vila que foi referência para a maioria dos oeirenses residentes no Rio, ou de passagem. Ali, mesmo tão longe, tinha-se a impressão de estar em qualquer casa de Oeiras, pelo papo animado, a piada gostosa e, como não podia deixar de ser, a comida servida. Tudo girava em torno da velha terra. Lá residiam com ela pessoas de sua família. Num determinado momento, até sua genitora, dona Maria, já idosa. As outras eram Carmen Célia, sobrinha e filha adotiva, que conheceu o suíço Paul Kolliker, casou-se e foi morar na Europa, sua prima Didi, filha do tio Chico Rico, e a doce Mercês, que criou desde pequena.

Como era uma casa só de mulheres, não era conveniente hospedar homens, por razões óbvias. Lembro-me de terem ficado lá, mais de uma vez, entre outras queridas amigas de Oeiras, as seguintes: Rita Campos, Wilma e Vitória Freitas, Norma Feitosa, Mercês, ainda só Sá e Rocha, e até a caríssima mestra Amália Campos, evidentemente que acompanhada de Ritinha. De hóspedes de outros estados, lembro-me, e como, de uma capixaba lourinha, de nome Ângela. Já há algum tempo, bem mais de vinte anos, Besinha retornara ao pago querido, alternando sua morada entre a casa do Tanque, próximo do Canindé, e a da Zacarias de Góis. Nos anos noventa sofreu um derrame que a deixou um ser triste, reclusa, bem diferente daquela mulher alegre, extrovertida. Na última segunda-feira faleceu, para tristeza de muitos. Diria, de uma cidade.
Era Isabel Alves de Sousa, Besinha ou Besa um ser de excelsas virtudes. Serviu tanto do lado de cá, que, acredito, está agora sendo servida. Tenho a impressão até, para encerrar, que, igual à Irene de Bandeira, foi-lhe dispensado pedido de licença para entrar na grande morada.


(*) Ferrer Freitas é vice-presidente do Instituto Histórico de Oeiras

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