sábado, 19 de julho de 2008

OEIRADAS

(*) Benedito Amônico



Oeiras sempre demonstrou, ao longo do tempo, um carinho muito grande pelos que a visitam e por lá terminam ficando. Muitos vão chegando de mansinho e conquistando o coração do seu povo hospitaleiro. Alguns oeirenses até acham, radicalizando, que a terra é melhor madrasta do que mãe. Tivemos, há muitos anos, o Aparecido, nada dizia de sua origem, nem nunca declinou seu prenome. Tratava-se de um adolescente que se fez amigo de todos, principalmente dos de seu tope, garotos de mesma idade e altura. Um dia, como por encanto, desapareceu. Nunca mais se teve notícias dele.

Mestre Orlando Peixe, um português que exercia a profissão de mecânico de veículos, pessoa que alternava bom humor com certa dose irritabilidade, morou em Oeiras ali pelos anos quarenta do século XX. Dele ainda hoje são contadas histórias pitorescas. A mais famosa é a da abertura, no portão da oficina, de duas passagens para seus dois cachorros, uma maior para o cão mais robusto, e outra menor para o pequinês. No inicio dos anos setenta, um tipo metido a pesquisador cultural, conhecido como La Banca, não saía do pequeno comércio do professor Possidônio Queiroz.

Muita gente chega por influência de oeirenses residentes em centros maiores, que, de tanto louvarem Oeiras, despertam a curiosidade de pessoas ávidas por aventura.

Numa dessas louvações, o músico vilamochense Emerson Boy, residente em São Paulo, capital, em bate-papo com colegas de profissão na Praça da Sé, falou tanto e tão bem de Oeiras, que um seu conhecido jogou tudo pro alto, emprego, família e desembarcou na cidade em 2002, de mala, cuia, roupa e corte de cabelo diferentes de todo mundo.

Como todo bom interiorano nota logo uma pessoa estranha ao meio, começa a ser questionada sua presença: “quem é esse?”, “esse não é daqui!”. Passado algum tempo, no entanto, logo a comunidade se acostuma com aquele ser e passa a acolhê-lo como se da terra fosse.

Pois o paulistano de quem trato, Joaquim Almeida, o notável Joca Oeiras, foi tomando chegada, fazendo amizades, até conhecer o Dr. Carlos Rubem, o muito conhecido Bio de Ditim, de quem tornou-se amigo inseparável, o que levou a saudosa Socorro Sá a perguntar a este, de modo muito engraçado, num momento em que estava só: “Bio, cadê teu velho?”. Dr. Rubem de pronto respondeu: “ta lá em casa!”, cuidando tratar-se de seu pai. “Não tô falando de teu pai, não, e sim daquele velho da cabeça encarnada.” Dispensável contar que a figura gosta de pintar o cabelo de cores diversas, algo meio psicodélico, como se dizia nos anos sessenta/setenta, se auto-intitula anjo e vive a dizer, aos quatro ventos, lembrando a marchinha de carnaval: “daqui não saio, daqui ninguém me tira” e, para demonstrar seu grande amor a terra, acrescentou o topônimo a sua graça.

Que venham os mensageiros: Arcanjos, Querubins e Serafins, mas que tragam, também, os anjos da PAZ, do DISCERNIMENTO e da PROSPERIDADE para essa gleba bendita.



(*) Benedito Amônico é oeirense.

Nenhum comentário: