segunda-feira, 7 de julho de 2008

OEIRADAS

(*)Benedito Amônico



Com a transferência da capital para Teresina, cuja data de instalação definitiva é considerada 16 de agosto de 1852, Oeiras amargou, por décadas, um declínio nas suas atividades econômicas, à época restritas ao extrativismo vegetal e/ou agropecuárias. Situação agravada ainda mais em face da sua localização geográfica entre duas progressistas cidades, Picos, grande entroncamento rodoviário, e Floriano, centro comercial pujante, sobretudo pela presença, desde cedo, de sírio-libaneses, cuja imigração se iniciou por volta de 1880, quatro anos após a visita do imperador Dom Pedro II ao Líbano.

A ex-capital só passou a respirar a partir dos anos 30 do século passado, culminando, no inicio dos anos sessenta, com o benfazejo aparecimento da Associação Nordestina de Desenvolvimento Agrícola (ANDA), obra do bispo dom Edilberto Dinkelborg, que resultou na criação de colônia agrícola posteriormente transformada no município de Santa Rosa.

Antes da ANDA, parte da mão-de-obra local, sobretudo a constituída de pedreiros e carpinteiros, buscava trabalho na região sul do país, notadamente em São Paulo. Lembro-me que a empresa de ônibus de Dona Nanu, maranhense de São João dos Patos, semanalmente partia levando os iludidos e voltava trazendo os desiludidos, como alguns comentavam. Por menor que fosse o tempo de permanência, alguns oeirenses voltavam com o sotaque diferente, chiando, tentando falar como sulista e, por vezes, desconhecendo antigos amigos, além de estranhar muita coisa. Ressalte-se que a televisão ainda não havia chegado, como nefasto instrumento de transformação das culturas regionais.

Pois não é que um desses oeirenses desiludidos com o sul do país, o muito conhecido Zé Lopes, ao retornar, falante e se admirando de tudo, em conversa com amigos, presente seu pai, vereador Acelino Lopes, de repente visualiza na enorme pedra conhecida como morro do Leme, parte leste da cidade, aves negras, alternando pousos com vôos rasantes. De repente deixa escapar: “ que pássaros negros são aqueles que sobrevoam aquela colina?” . De pronto, e de forma ríspida, foi repreendido pelo seu genitor: “tu não é besta não, filho de uma égua. Tu não conhece mais nem urubu!”

Mas, os tempos agora são outros. O urubu já não sobrevoa a colina, desceu o morro, samba no asfalto e busca sua alimentação nos becos, ruas e avenidas.


(*) Benedito Amônico é oeirense

Nenhum comentário: