terça-feira, 1 de julho de 2008

Oeiradas

(*) Benedito Amônico

Foto: Adleuza Pacheco

Oeiras, capital da fé, título também usado por muitas outras cidades piauienses, principalmente nos festejos de seus santos-padroeiros, e Monumento Nacional, por força de lei de autoria do ex-deputado federal, o oeirense Tapety Júnior, sancionada pelo Presidente José Sarney, é berço de poetas, músicos, filósofos, boêmios e loucos. Tem ainda como característica marcante a política, cuja discussão é o entretenimento preferido, nos bares, barbearias e praças.

Lá, ou se é carne ou peixe. Para ser político, necessário se torna descender de famílias tradicionais. Só existem dois partidos, a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD). Isso mesmo. As siglas mudaram em todo o Brasil, mas não em Oeiras. Como se sabe, esses partidos foram criados no final do Estado Novo, no ano de 1945, século XX. A UDN, no dia 7 de abril. O PSD, em 17 de julho.

Nascido José no interior do município, Zezão da Bodega, como bom oeirense não se constituia exceção. Comerciante na chamada rua da Feira, era entusiasta da UDN. Sabedor da vinda do dr. Jânio Quadros à vizinha Floriano, em campanha para a presidência da República, rumou para lá e, com interferência do conterrâneo dr. Tibério Nunes, aproximou-se do candidato e pediu-lhe um emprego. Jânio, como todo candidato, respondeu-lhe: - se eu for eleito, me procure.

Zezão só deixou o homem tomar posse. Mandou-se pra Brasília no primeiro pau-de-arara que passou por Oeiras. Lá chegando, postou-se em frente ao palácio da Alvorada e ficou acampado por vários dias. Numa manhã, já quase esmorecendo da empreitada, vê o Presidente saindo e grita: “Presidente, eu sou aquela pessoa que pediu um emprego ao Senhor no Piauí”. Jânio ordena que o deixem passar e conduzam até seu gabinete.

Zezão então cobra a promessa do candidato. Assegurado emprego no Instituto da Borracha – (seringueiro), com lotação no Estado do Acre, para onde Zezão parte. Dias penosos, saudade da família, o oeirense não consegue se adaptar e retorna a Brasília. Começa aí nova luta pra falar de novo com Jânio, o que consegue, por já ser conhecido de alguns seguranças. Levado à sua presença, dispara, com todo respeito a Sua Excelência: “Presidente eu voltei”. Jânio retruca: “Mas por quê, não se adaptou à região?” “Presidente, quem ficou para tirar leite de pau foi b.......”.

O presidente caiu na gargalhada e resolve autorizar para que Zezão da Bodega fosse admitido em repartição federal no Piauí, em município distante somente 30 quilômetros de Oeiras.




(*) Benedito Amônico é oeirense.

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