domingo, 27 de janeiro de 2008

Zé de Helena, homenagem a um lutador
*Luiz Mott



Várias vezes tenho dito e escrito, que por sua posições progressistas, “o Piauí é a San Francisco do Brasil”, pela forma moderna e esclarecida como os piauienses vêm se relacionando nos último tempos com um dos maiores tabus contemporâneos: o amor entre iguais. A reeleição da vereadora, atualmente exercendo o cargo de vice-prefeitta de Colônia do Piauí, Kátia Tapety, é uma das provas mais convincentes que para muitos piauienses, o que vale é a capacidade, a honestidade, a bondade do coração, e não a forma como o indivíduo se veste, ou com quem compartilha seus afetos e emoções íntimas. Afinal, cidadania não tem roupa certa e o amor não tem sexo.
A concessão, na data de hoje, Festa do 24 de Janeiro (2008), por parte do Município de Oeiras e do Estado do Piauí das Medalhas do Mérito Mafrense e Renascença, respectivamente, deste merecido reconhecimento a José Hipólito Marinho, o sobejamente conhecido Zé de Helena, é mais uma prova do respeito e carinho como os sertanejos tratam àqueles que ousando desobedecer a heteronormatividade dominante, vivenciaram na prática, o que o insuperável poeta Fernando Pessoa pleiteava como solução para a boa convivência humana: “O amor que é essencial; o sexo, acidente; pode ser igual,pode ser diferente”. Zé de Helena faz parte de aproximadamente 10% da humanidade “cujo amor não ousava dizer o nome”, e que apesar das fogueiras da Inquisição, dos campos de concentração dos nazistas, das pedradas do Levítico e dos insultos dos homófobos contemporâneos, persiste nesta invencível sina, de seguir o que o coração dite, sem medo do inferno nem da maldade das línguas viperinas. “Toda maneira de amor vale a pena, toda maneira de amor valerá!”
Que estas homenagens prestadas, com toda justiça, a Zé de Helena sirvam de marco em oeiras, no Piauí e em todo o Brasil, para garantir doravante o respeito à livre orientação sexual de todos os gays, lésbicas e travestis. Desde que dois amantes sejam adultos e livremente se amem, ninguém tem nada a ver com a felicidade alheia. Cada qual no seu cada qual. Longa vida à Brisa do Mar – Zé de Helena – a Bicha-Mor de Oeiras e do Sertão do Piauí. Exemplo de determinação e resistência à ignorância e ao desamor!

*Professor Luiz Mott, antropólogo, Cidadão Piauiense por Decreto da Assembléia Legislativa do Piauí, Comendador da Ordem do Rio Branco e do Mérito Cultural e Decano do Movimento Homossexual Brasileiro.



José Hipólito Marinho, o Zé de Helena, nasceu no dia 25 de setembro de 1928, na Primeira Capital do Piauí. Filho de Hozano Pereira Marinho e Helena Hipólito Marinho. Jardineiro (aposentado) da Prefeitura Municipal de Oeiras, admitido que foi, em 1946, por ato do então prefeito José Nogueira Tapety, que o cognominou de “Brisa do Mar”. Também prestou serviço Juno ao DNOCS. Garçom, paisagista, decorador. Presença marcante em todos os ventos sociais e religiosos de sua cidade natal. Figura de primeiríssima grandeza que tem conquistado o respeito e admiração de todos quanto o conhece.

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